
“O que mais existe no mundo são pessoas que nunca se vão conhecer. Nasceram num lugar distante, e o acaso não fará com que se cruzem. Um desperdício. Muitos desses encontros destinados a não acontecer poderiam ter sido arrebatadores. Por afinidade, por atração que não se explica, por força das circunstâncias, por químicas ocultas, quem pode saber? Quanto amor se perde nessa falta de sincronia. Não é preciso ir longe, alguém pode passar pela esquerda enquanto olhamos distraídos para a direita. Por um triz o paralelo obriga-nos ao desencontro eterno. É preciso uma coincidência qualquer para que o amor se instale. Existe um certo milagre nos encontros. Não é tolo dizer que o amor é sagrado.”
Peguei emprestado as palavras da Carla Madeira pra falar de um encontro que precisava acontecer. Gabriella, baiana, e André, carioca, se conheceram em Miami, quando os dois estavam fazendo faculdade. Dois mundos diferentes se conhecendo em um mundo mais diferente ainda.
Logo de cara, ficaram muito amigos. Conversavam todos os dias, e, a cada dia que passava, essa vontade de conhecer o mundo do outro aumentava. Nas palavras da Gabi, “eram duas pessoas que se interessavam muito uma pela outra, pela conversa, simplesmente pra saber da vida.” A intimidade foi crescendo tanto, de maneira tão natural, que o primeiro “eu te amo” veio dois meses depois, antes mesmo de acontecer o primeiro beijo.
Nesse momento, entenderam que precisavam ficar juntos. Mas esse “ficar juntos” não aconteceu de forma gradual, como a maioria das relações. No caso da Gabi e do André, o amor era tão natural, que o relacionamento simplesmente foi. Certeiro. Eles sabiam que aquilo era certo.
A Gabi diz que existem dois tipos de pessoas no mundo: a pessoa que tem raízes, e a pessoa que tem asas. E isso representa muito os dois. Gabi tem medo de avião, é apegada e nunca quis morar fora. Já André tem asas, e nasceu com a capacidade de alçar os voos mais altos que a Gabi já viu. Com ele, ela aprendeu a voar. Com ela, ele aprendeu a ficar.
André tem curiosidade e sede de viver. Gabi sabe apreciar a rotina, e valoriza os pequenos bons momentos. Juntos, eles criam algo maior e mais completo. Mas essa complementação não se baseia na ideia de serem "metades que se encontram", mas sim na capacidade de cada um trazer algo especial que a outro falta, enriquecendo a relação e o desenvolvimento individual e conjunto.
Falando desses elementos que se unem, com o André, Gabi passou a ter uma relação mais próxima com a natureza. Ela entendeu a importância de se conectar com algo maior, e as escolhas de vida dos dois sempre leva isso em consideração: seja o lugar pra morar, a festa de casamento, ou até o filho de quatro patas, Luigi.
Carlos Drummond de Andrade sempre associou o amor com a natureza, e acho que isso também permeia a história da Gabi e do André. O sentimento deles foi tão intenso, puro e natural, que é como diz o poeta “amor é dado de graça, é senado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.”
Mas ainda que o amor seja dado de graça, é preciso cuidado pra uma relação perdurar. Gabi e André dizem “eu te amo” todos os dias. Dormem sempre abraçados. Se beijam ao acordar e antes de dormir. Juntos, eles criaram uma regra: sempre que saem pra jantar, querem que todo mundo em volta pensem que ainda estão no início do namoro. Sem celular, com olho no olho e muito carinho. Porque é assim que eles querem viver pro resto da vida.
Por Ana Luisa Soares

